piątek, listopada 02, 2007

uma cena

Ruídos: passos no asfalto, a respiração de alguém ofegante, cansado, com medo. Folhas que tentam levantar vôo, árvores nervosas, uma gota, depois outra.
Aromas: o vento carrega consigo um cheiro suave de orvalho, de grama e terra, de infância. Mistura-se com isto a podridão de um braço de rio, fumaça de carros ao longe [aliás, há barulhos de carros e pessoas ao fundo da rua, no horizonte apagado].
Imagens: uma rua deserta, galhos agitados, folhas no chão, insetos no ar. A lua ilumina, mesmo que atrás de nuvens escuras. É noite. As luzes da rua não funcionam. Uma tenta ascender-se, está quase queimando. As casas iluminam a noite escura, o pouco do asfalto... Uma criança andando. Carros parados e bicicletas no chão.um pássaro dorme sobre seu ninho. Mas não dá para vê-lo na escuridão.

Venta, mas faz calor. É um bafo quente que vem do rio, ou talvez do asfalto queimado. A paisagem é estranha... É um poço que transborda de lembranças e dores e risadas.
As gotas na janela... Não dá para saber se é a chuva do lado de fora do vidro, ou lágrimas escorrendo por alguma bochecha iluminada por um olhar do lado de dentro da sala abafada.
Um telefone toca, ninguém atende. Continuam as divagações e pensamentos... O coração ainda bate com a mesma força enigmática. O celular agora toca desesperado. Sem resposta...

Era antigamente... O mesmo vento, a mesma onda de calor, os mesmos cheiros e sons e paisagens ilustravam a pérola negra dos quinze anos. Doloridos, em carne viva, passados, revoltados. Ferozes quinze anos. Caminhávamos juntos por sobre o asfalto, na melancólica sarjeta. Músicas antigas e belas, sensíveis. O Werther embaixo do braço. Correndo das gotas pesadas. O msn piscando com mensagens ansiosas.
Maldito seja o poço da infância! O mundo já passado, o vácuo do destino... A insegurança do amanhã!

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