DO PORQUÊ DE NÃO TER MONTADO UMA BANDA DE ROCK
A nossa geração foi incapaz de produzir rock’n’roll. Nascemos no abismo de um muro quebrado, no vão entre duas realidades opostas. O nosso amadurecimento se deu quando prédios e aviões foram sugados pelo chão, levando consigo o último lapso de esperança que brilhava nos olhos de nossos pais. Estes, por sua vez, ao invés de nos mostrar o caminho de volta do labirinto, só reclamavam da nossa passividade. Gerações anteriores, que haviam visto revoltas e guerras e revoluções (e até um mundo melhor), agora nos desprezavam, achando que nossos olhos estavam fechados. E talvez estivessem realmente... Éramos surdos, ouvíamos bate-estaca (músicas geradas por computadores), buzinas, lixo... O mundo era um aterro a céu aberto.
As nossas drogas - ecstasy, videogame, internet - não nos permitiam produzir; impeliam-nos a uma ação artificial, a uma comunicação virtual (em todos os sentidos); simulavam um movimento que ia se tornando aleatório e anárquico. Palavras expressas em vão. A cultura em massa vulgar e crianças sem sonhos. Toda uma geração vazia - os anos 90. Não pertencíamos a ela. Quem somos nós? ‘A vida é assim mesmo’...
Como poderíamos produzir rock’n’roll se os nossos olhos estavam assim fechados e os ouvidos atormentados? O movimento nos chamava e nos escondíamos atrás dele. Passivos. Corríamos para ele. Apáticos. As máquinas nos desiludiam, porém já não era possível viver sem elas. ‘A verdade é cruel’.
A nossa geração não pôde produzir rock’n’roll, nem política; nada. Era o que diziam os velhos, orgulhosos de seus tempos nostálgicos. E, enquanto isso, essas malditas handycams baixavam de preço e se facilitavam. O DVD barateou a exibição cinematográfica. ‘Ver o filme que quiser em casa!’. Se éramos ainda muito pequenos para refletir sobre os 50 anos do rock sendo comemorados, ouvindo Xuxa e Backstreet Boys, já nos encantávamos com o mundo do cinema Disney. 100 anos de cinematógrafo e... Talvez fosse essa a saída. A nossa geração foi incapaz de produzir rock’n’roll, mas esteve no centro do boom do cinema universal.
poniedziałek, września 10, 2007
desencargo de consciência
wtorek, kwietnia 03, 2007
dois Vinicius
silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espaumadas fez-se o espanto.
Que dos olhos desfez a última chama,
E da paixão fez-se o presentimento,
E do momento imóvel fez-se o drama.
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho que se fez contente.
Fez-se da vida uma aventura errante,
De repente não mais que de repente.
O dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar
Depois na praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de coco
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha
E com o olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda a rodar
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
Do vento que a noite traz
E o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais
E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
wtorek, marca 06, 2007
[música & poesia]
Abra os olhos, garoto,
E veja o mundo a seu redor.
A manhã é tão bonita,
O sol brilha e caminhões se movimentam:
Estão todos indo trabalhar,
Todos lindos, alinhados, cada um em seu lugar.
Os outros meninos choram,
Mas você não quer se levantar.
O que adianta viver sonhando
Quando se tem um mundo pela frente?
Acorde e busque um sentindo
Para a sua existência.
O sistema te oprime,
Mas você não deve se entregar.
O que adianta ir dormir
Com tantos planos na cabeça
Se o dia seguinte será tomado
Por preguiça e fracassos?
Abra os olhos, garoto;
Enquanto os outros meninos estão chorando,
Os caminhões continuam se movimentando
Nesta manhã tão clara e quente.
O verão está bonito,
Mas o verão vai acabar.
Levante-se garoto,
Eles precisam de você.
Há um mundo a conquistar,
Há mais de mil razões para viver.
wtorek, listopada 07, 2006
Cartinhas
(Frejat)
Eu te desejo não parar tão cedo
pois toda idade tem prazer e medo
e com os que erram feio e bastante
que você consiga ser tolerante
Quando você ficar triste
que seja por um dia e não o ano inteiro
e que você descubra que rir é bom
mas que rir de tudo é desespero
Desejo que você tenha a quem amar
e quando estiver bem cansado
ainda exista amor pra recomeçar,
pra recomeçar
Eu te desejo muitos amigos
mas que em um você possa confiar
e que tenha até inimigos
pra você não deixar de duvidar
Quando você ficar triste
que seja por um dia e não o ano inteiro
e que você descubra que rir é bom
mas que rir de tudo é desespero
Desejo que você tenha a quem amar...
Desejo que você ganhe dinheiro
pois é preciso viver também
e que você diga a ele pelo menos uma vez
quem é mesmo o dono de quem
Desejo que você tenha a quem amar...
Nada melhor do que começar um post sobre música com uma música!
E essa eu escolhi por estar falando algo que se insere no meu cotidiano atualmente... Mas que todos deviam levar em conta, obviamente. (Eu recomendo que leiam a letra com atenção.)
Vou colocar aqui três cartinhas que mandei ao *Folhateen (uma em 2004, as outras duas este ano) e foram publicadas. Espero que gostem!
Sobre a Seção de Música (10/08/2006)
Voltando a falar de música, a cada edição do Folhateen parece que temos mais o que elogiar no caderno. Até pouco tempo atrás, confesso que acreditava que vocês estavam entrando em um período de decadência. Agora, porém, tenho me surpreendido com a qualidade de matérias sobre música que vocês têm publicado: Ramones, Iggy Pop, Talking Heads, e, é claro, o camaleão mais influente do mundo da música, David Bowie, ganham mais espaço na mídia jovem! Acho muito bacana vocês passarem informações sobre as bandas que os nossos pais ouviam, mostrando que o rock não tem nem idade nem geração definidas. Fora o preconceito contra bandas setentistas e oitentistas, como Roxy Music! Temos mais é que abrir a cabeça tanto para as novas quanto para as antigas manifestações culturais!
A Respeito da Matéria sobre Blondie (01/01/2006
Gostei muito da matéria sobre a banda dos anos 70, Blondie, que vocês publicaram hoje, 31/07/2006. Traidora ou não, ela foi muito importante tanto no aspecto musical quanto no da atitude (que punk não se lembra da foto de Debbie mostrando a calcinha no palco do CBGB?! Ou dela na cama com Joey Ramone?!). Se Blondie deixou de ser punk, foi porque o mundo todo já começava a se engajar na New Wave; bandas como Sex Pistols viriam a dar origem a grupos pós-punks, como o Public Image Ltd., ou a se caricaturizar, como o lendário Iggy Pop. Uma pena foi Blondie ter acabado, uma benção foi este novo CD ser lançado (que está, aliás, muito bom!). Parabéns, Folhateen, por ter "ressucitado" a imagem de uma das mais influentes bandas dos anos 70 e de toda a história do punk e do rock'n'roll! A foto que que vocês publicaram para ilustrar a matéria, essa vai para a minha parede, junto com outros pôsters!
Sobre a Matéria de Giuliano Manfredini (19/04/2004)
Vivemos num tempo, num mundo onde tudo é descartável e passageiro. Poucos permanecem na cabeça, na lembrança das pessoas, e, a meu ver, estes poucos são os bons. Em tempos de guerra, Gandhi é citado. Goethe, com seus versos e sua prosa ainda não foi esquecido. Não, pelo menos, quando falamos de sentimentos, quando acreditamos que eles ainda existam. E é falando deles que nossos corações despertam, deixando de lado a razão completa e a lógica que, em nossos tempos, nos ocupa a mente o dia todo.
A matéria sobre Renato Russo, escrita por seu próprio filho (Giuliano Manfredini), nos faz lembrar, como ele mesmo diz, que estes sentimentos estão dentro de nós e não deveríamos esquecê-los. Deveríamos sonhar um pouco mais. Deveríamos continuar acreditando nos sentimentos humanos e nos lembrar que há muita gente boa que não deveria ser deixada de lado. É difícil, a rotina e os deveres nos engolem, a lógica e os conceitos também. Quando li as poucas palavras de Giuliano, lembrei-me da doce voz de Renato a cantar: "amar ao próximo é tão demodê". Seria bom se pensassemos nisso sempre.
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*Desculpem o puxa-saquismo, mas eu realmente gostei das matérias! As outras cartas mandadas a eles, com críticas mais... hum... ácidas?... não eram sobre música, logo não se inseriam neste post.