niedziela, października 21, 2007

breve momento

As árvores se revoltam contra o cheiro de fogo e a fuligem negra. As folhas não caem, e são verdinhas, verdinhas... O chão é coberto de flores rosa, o céu quer ser azul brilhante, mas a lua está quase cheia hoje, encostando-se numa cobertura de nuvens cinza-claro, que formam um colchão macio.
As árvores debatem-se zangadas e as suas sombras misturam-se com o céu. O ar é quente, cheio de poeirinhas e animaizinhos levantados do chão.
Eu sonho histórias para contar.

luzes e reflexos

Hoje, todas as cores estão desbotadas: o céu é dum cinza cru... Os caules das árvores são marrons igualmente cru, com musgos cru. As folhas formam coberturas verde-cru sobre as ruas, que projetam as escuras sombras cru. Carros resmungam cruamente, e cachorros latem pêlos cru. O vento traz um cheiro cru para as narinas de um gato dorminhoco. As folhas escorregam pelo chão de pedra cru, fazendo um som seco, muito cru. E no calor da sala, iluminada por um laranja vivo, admiro a paisagem entrando pela minha janela: se lá fora postes, muros e ninhos de pássaros estão cru e desbotados, daqui de dentro, o azul vivaz da luz que entra fere a minha retina, querendo me lembrar que as fantasias são reflexos de uma realidade nascida antes do tempo.


***


Os contornos são inexistentes nas coisas, que não têm sombras. A luz azul é contornada pela branca desbotada, tornando-se claro o limite de ambas. O contraste com a luz laranja é fortemente visível:ela se espalha pelo ambiente, como as ondas no oceano. Faz calor e venta pouco.

clash

texto idealizado sábado, ontem.

Viver é bom!
Nas curvas da estrada
Um caminhão corria
E as suas rodas imensas
Aproximavam-se
De minhas pequenas rodas.
E de tão perto que chegara
O caminhão de rodas grandes,
Deixou as minhas rodas paradas,
Sem forças para continuar...

Adeus pára-choque!


Godotuel

Waiting for Godot.
Texto pensado na última sexta-feira.

É a sensação de caminharmos o dia todo, sem paisagens, para lugar algum.

czwartek, października 18, 2007

O louco

- Pierrot!
- Je m'appelle Ferdinand.


Um velho cinema, a poltrona da frente... Sem ninguém para atrapalhar a visão: eu e a tela, a tela e eu, como íntimos amigos... Irmãos. Segredos e histórias, sonhos... Tensões. Um verdadeiro cinema, daqueles que só se vê em filmes.



The night was heavy and the air was alive....


Era uma dessas noites muito claras; a luz branca escorria do céu, até ferir o chão, e luzes amarelas tentavam flutuar pelo ar. Fazia frio, tudo estava calmo. Ela andava como uma atriz francesa, vestindo seu belo casaco, com as mãos nos bolsos para aquecer; dava passos rápidos. Ia pela grama, calçada, e, finalmente, chegara à rua. Olhou para o céu: não havia lua, tudo era cinza, nublado. Alguém tocava trompete no quarto de luz acesa que aparecia nalguma janelinha de um alto apartamento. Belo Som! Um blues! E o barulho do vento, das árvores, a garoa que caía lentamente... Ela agora dirigia seu carro, observando o reflexo das luzes amarelas nas gotinhas redondas que ficavam no vidro. Mas não é romântico falar de carro, assim como não vale à pena citar as gotinhas agora. Belo seria pensarmos em grilos e estrelas e na eternidade. Os carros são muito modernos, e enferrujam. As gotas não caem mais, evaporaram-se. Ela corre na rua. O cheiro de grama molhada aquece-a; a dama-da-noite, velho perfume da infância, está hoje alegre. Um cachorro late, e nada mais. A rua deserta, como se a vida fosse um ciclo. Como se os problemas, de tão passageiros, não existissem. Como se tivéssemos nos esquecido do trajeto, lembrando-nos apenas de aromas e sensações antigas, retornando ao ponto de onde viemos. E o útero de nossas mães volta a nos envolver, com o som dos grilos, o brilho das estrelas, o calor da eternidade.



Elle est retrouvée!
Quoi? L' éternité.
C'est la mer mêlée
Au soleil


Qualquer filme que consegue terminar com uma estrofe de Rimbaud é, no mínimo, maravilhoso.

poniedziałek, października 15, 2007

both

Hoje eu tive uma experiência um tanto quanto interessante... Aconteceu-me de imaginar duas pessoas diferentes, e que eram na verdade a mesma. Explico. Há algumas semanas atrás, conheci uma moça amiga de amigos meus. Pessoa simpática, tranqüila... Alguém que parece fácil de se relacionar.
Nesta mesma época, fui a uma banca de TCC onde estavam julgando os roteiros a serem filmados. Alguns me impressionaram bastante. Um deles, adaptação de um conto, pareceu muito interessante, até porque eu já tinha pensado em adaptar algo, e não sabia como era... Nunca tinha tido contato com ninguém que o tivesse feito seriamente.
A jovem roteirista falou com bastante firmeza a respeito de seu projeto, colocando-se de maneira um tanto quanto inusitada para a banca de professores. Lembro-me de uma passagem engraçadíssima de sua apresentação, que se sucedeu logo no início. Ela disse assim:
- Antes que vocês me perguntem, eu já consegui a devida autorização para filmar este conto. – E abriu o documento no computador que estava conectado ao datashow, sendo então projetado bem grande numa tela, onde todos podíamos ler.
Depois da apresentação, nunca mais vi a menina...
Enquanto isso, me aproximei um pouco mais da moça que havia conhecido através dos amigos. Hoje à tarde estávamos conversando em uma rodinha, quando a menina diz que seu roteiro mudou completamente. Ao perguntar que roteiro era, levei obviamente um susto: era ela a mesma menina que apresentara o projeto de adaptação de conto semanas antes! E eu não havia reconhecido!
E, de repente, tudo se elucidou: as duas moças eram na verdade uma só.

niedziela, października 14, 2007

momento truffaut

Fabienne Tabard Fabienne Tabard Fabienne Tabard
Fabienne Tabard Fabienne Tabard Fabienne Tabard
Fabienne Tabard Fabienne Tabard Fabienne Tabard
Fabienne Tabard Fabienne Tabard Fabienne Tabard
Fabienne Tabard Fabienne Tabard Fabienne Tabard
Fabienne Tabard Fabienne Tabard Fabienne Tabard

Christine Darbon Christine Darbon Christine Darbon
Christine Darbon Christine Darbon Christine Darbon
Christine Darbon Christine Darbon Christine Darbon
Christine Darbon Christine Darbon Christine Darbon
Christine Darbon Christine Darbon Christine Darbon
Christine Darbon Christine Darbon Christine Darbon
Christine Darbon Christine Darbon Christine Darbon

Fabienne Tabard Fabienne Tabard Fabienne Tabard

Christine Darbon Christine Darbon Christine Darbon
Christine Darbon Christine Darbon Christine Darbon

Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel
Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel
Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel
Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel
Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel
Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel
Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel Antoine Doinel

o cheiro do frio

Chove. Faz frio. O vento é gelado e úmido. A paisagem romântica complementa-se com o cheiro de lareira misturado com pássaros voando e cantando, e o latido de um cão. Amoras azedas caem do pé. Eu gostaria de estar lá fora, na rua, a fazer parte do ambiente, da cena, do mundo, mas paredes e janelas me prendem neste carro, quarto, nesta casa vazia e escura, quente.

sinápse

Tantos textos surgem em pensamentos, como palavras imateriais não-escritas de verdade. A caneta parou de funcionar.

***

O eco. Um cachorro late, árvores agitam-se, folhas raspam no chão e crianças riem. Tudo ecoa nas ruas e vielas de meus pensamentos.

a tarde

Adiante uma hora o seu relógio e descobrirá que acordou às 14h hoje. Ouça Cazuza e entenderá melhor este post.


Cazuza estava tocando no rádio. Um acorde forte, a bateria pesada, ritmos rápidos. As músicas são tão belas e combinam tanto com o que vivemos... Mas eu não faço showzinhos e não tenho cartão de crédito.

***

O velho apartamento cheirava agora a quarto de hotel, quando a viagem é longa e agradável: o banheiro era como quando chegamos, com as expectativas do que encontraremos, e a sala era como quando partimos, sabendo que nada mais ficará além de boas lembranças e fotos bonitas, e que os próximos hóspedes continuarão a nossa história do ponto de onde deixamos.

retina

A luz crepuscular refletia em meus olhos apenas o contorno das coisas. Alguém me falava algo, e era tão nítido quanto estradas rurais a noite, quando dirigimos sem farol. Belos contornos! Esbranquiçados pela lua, cujos raios entravam por alguma fresta de janelas escondidas nalgum outro canto, longe do meu quarto.

***

Maldita seja a minha câmera! Quando será que conseguirei apreender o roxo céu da manhã e o azul acinzentado do início da noite?

frags. 3

A comédia de Godard não poderia ser mais bela que os beijos roubados por Doinel duma Cristina. Por que o glamour fugiu-nos? Certamente que não foi a culpa de jovens burgueses maconheiros (vulgo playboyzinhos maconheiros de merda).

***

Lutamos por causa do Amor e nos acovardamos por culpa do desprazer de lutar.

***

Viver na lacuna é correr para lugar nenhum. É melhor saber que não chegaremos a nada do que duvidar da existência do fim.

***

O frio tem um cheiro denso e entorpece, e o calor se demonstra através do barulho de sapatos sobre um tablado de madeira.

pés

Nada mais macio que os passos de um gato sobre grossos tapetes!

sábado 13

escrito em 13/10/2007 por La Maie

Com o tempo a gente esquece e relembra aquilo que mais marcante foi na juventude. Pecado pode ser não sentir mais o que todos os dias estava presente em nosso corpo. Hoje foi, para mim, uma dessas vezes em que revivemos aquilo que estava à flor da pele durante muitos dos meus anos de juventude. Ainda sou jovem, e fico feliz que a minha infância foi resguardada deste sentimento físico. Hoje acordei com aquilo que me acompanhava nas manhãs colegiais: a vontade de vomitar. E a idéia de me reacostumar com a dor ansiosa que sai da boca do estômago e corre direto ao esôfago voltou à minha cabeça, como se o corpo quisesse mesmo é expelir emoções e pensamentos.

piątek, października 12, 2007

1.2

parabéns! parabéns! hoje é o seu dia, que dia mais feliz!

12 de outubro. o meu, o seu, o NOSSO dia!! :)
felicidades para todos nós! e um bom dia das crianças a todos!



+ Paulo Autran.
++ Ontem: Renato Russo

fragmentos

Dois fragmentos de um texto acabado:

"Hoje eu percebi como é difícil se desfazer de coisas velhas. O valor emocional que elas carregam, momentos que nos fazem lembrar... Ah! Quão felizes éramos um dia! E que risadas doces demos por sobre essas coisas! Dá até para ver a marquinha feita pelo ácido de lágrimas salgadas..."

"O cheiro antigo do perfume.
As saudades não bastam sobre estas coisas todas. É necessário ainda muito limpar, o armário já está quase vazio."

error

Eu não sei se já falei aqui, mas em todo caso, é bom lembrar-vos:
erros de ortografia, gramática, muitas vezes são propositais. Nem sempre a gente fala como escreve, ou escreve como fala. Mas às vezes, sim.

fogo !

a seca secou o suor que escorria.

muros, estradas, casas, condomínios.

faz bem desmatar !

...

Porque tudo o que eu tenho cabe em dois porta-malas pequenos.

poniedziałek, października 08, 2007

"Neste país é proibido sonhar"

Andar de cima:

Vrrrrrruuuuuuuuuuóóóóóóóeeemmmmmmm.....
Tum toc tum. TUM. Toc tum toc.

Andar de baixo:

- Atenção! O teto vai cair!
- E se cai o teto, foi o chão que desabou!
- Ah! Mas isso já aconteceu faz tempo!
- Como assim?!
- É assim: nós só temos teto, porque o chão foi-se embora. O piso está em cima. Apoiamos-nos com a cabeça no duro desse gesso.
- Vocês então voam?
- Flutuaríamos... Mas graças a Deus temos o teto, que aperta e comprime nossas cabeças, e não nos deixa chegar aos céus.

malditas sejam as núvens, carregadas de sonhos úmidos, impaupáveis, inapreensíveis.

***

Eu improviso



Em casa: pessoas reformam o apartamento de cima.
Janela aberta: buzinas, motores, a obra do metrô. Oficinas, marcenarias, mecânico.
Um prédio está sendo construído.
A rua: as mesmas pessoas. - Olá! - Você por aqui?! ... Carros todos estranhos, de passagem.
No trabalho: um estúdio. Paredes sendo montadas, tábuas de madeira marteladas, o cheiro de tinta.
A vida de quem faz teatro e não atua. A cidade de quem desconhece o habitual e só enxerga o teatro da vida dos outros.
O mundo é cenário; atitudes interpretação; pensamentos são ensaios; sentimentos o improviso.

***

Eu vou ali um pouco brincar com meus amigos, cantar alguma coisa, encher a cara e... Talvez depois... Só depois eu te tiro pra dançar... (Se você quiser, é claro!)

***

É sempre do avesso que se fazem as frases, as cenas, os sentimentos e as relações. Como se estivessem ali para nos lembrar: não, o tempo não é linear e a vida quer fugir da rotina.
Enquanto isso, a retina esconde os atos impensados e os impulsos calculáveis.

***

Mas que velocidade toda é essa?! É São Paulo, que se esconde por trás de barulhos, e cheiros, fumaças, multidões.

***


A prosa é o caminho do equilíbrio buscado por poetas desamorosos. Os prosadores são pedras. Os poetas o vento.
A água evapora no ar, o fogo derrete o sólido.

***


As idéias existem e se perdem e somem quando a alma materializa-se por sob a ponta de uma caneta: palavras não são mentiras; a realização de idéias sim.

***


O concreto e o piche e o cal podem ser resumidos no latido seco do cão raivoso. Ele agora chora, com a voz rouca de tanto fumar poluição.

cont.

Maldito pedaço de você que em mim fincou, ferindo-me lenta e cruelmente. E agora sangro no entorno deste pedaço, e você nem viu... Não está mais aqui. Foi procurar-se sozinho, tentar juntar os próprios pedaços perdidos no deserto, resultantes da explosão de si mesmo no momento errado: quando eu estava ali por você.
Agora estou machucada, talvez letalmente, com um pedaço de você cravado em mim, e não posso recolher as outras partes suas no deserto da alma de todo mundo.

***

O vazio torna-se verdade quando se olha para o horizonte e o que se vê é a fumaça cinza misturada com o opaco azul do céu marrom.

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O nascer do sol não é vermelho, mas roxo. Roxo como os teus olhos quando sorriste pela primeira vez.

***

Foi quando comecei a escrever que alguém me interrompeu para dizer:
- É hora do almoço! A comida ta na mesa!
E então me lembrei que ainda estamos vivos, e a lembrança transformou-se em pensamento, e coloquei-me a escrever novamente, do ponto de onde tinha parado: a vaga lembrança de ainda viver.

***

Escrevi seu nome, como Drummond melancólico, com o arroz e o feijão... Com o macarrão da sopa de letrinhas. Faltou-me infelizmente uma letra (algo comum de ocorrer a jovens poetas): a letra E que utilizei para iniciar a frase.

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Romântica, não hesita em olhar o céu vagamente azul e nublado, e pensar mais uma vez: Klopstock!

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O Amor só existe para aqueles que nunca o sentiram.

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Esqueci-me do que ia dizer. Menti no que escrevi. Escrevi o que acabei de esquecer.

***

Ontem escrevi uma poesia tão triste que, ao invés de afago da alma, tornou-se um veneno para corações sensíveis, e cujo efeito é tão tentador que se faz rapidamente, antes mesmo de nele repararmos: ele enrijece quem quer que leia o poema, tornando qualquer um entorpecido e lascivo.

***

Vivemos ainda!