czwartek, października 18, 2007

O louco

- Pierrot!
- Je m'appelle Ferdinand.


Um velho cinema, a poltrona da frente... Sem ninguém para atrapalhar a visão: eu e a tela, a tela e eu, como íntimos amigos... Irmãos. Segredos e histórias, sonhos... Tensões. Um verdadeiro cinema, daqueles que só se vê em filmes.



The night was heavy and the air was alive....


Era uma dessas noites muito claras; a luz branca escorria do céu, até ferir o chão, e luzes amarelas tentavam flutuar pelo ar. Fazia frio, tudo estava calmo. Ela andava como uma atriz francesa, vestindo seu belo casaco, com as mãos nos bolsos para aquecer; dava passos rápidos. Ia pela grama, calçada, e, finalmente, chegara à rua. Olhou para o céu: não havia lua, tudo era cinza, nublado. Alguém tocava trompete no quarto de luz acesa que aparecia nalguma janelinha de um alto apartamento. Belo Som! Um blues! E o barulho do vento, das árvores, a garoa que caía lentamente... Ela agora dirigia seu carro, observando o reflexo das luzes amarelas nas gotinhas redondas que ficavam no vidro. Mas não é romântico falar de carro, assim como não vale à pena citar as gotinhas agora. Belo seria pensarmos em grilos e estrelas e na eternidade. Os carros são muito modernos, e enferrujam. As gotas não caem mais, evaporaram-se. Ela corre na rua. O cheiro de grama molhada aquece-a; a dama-da-noite, velho perfume da infância, está hoje alegre. Um cachorro late, e nada mais. A rua deserta, como se a vida fosse um ciclo. Como se os problemas, de tão passageiros, não existissem. Como se tivéssemos nos esquecido do trajeto, lembrando-nos apenas de aromas e sensações antigas, retornando ao ponto de onde viemos. E o útero de nossas mães volta a nos envolver, com o som dos grilos, o brilho das estrelas, o calor da eternidade.



Elle est retrouvée!
Quoi? L' éternité.
C'est la mer mêlée
Au soleil


Qualquer filme que consegue terminar com uma estrofe de Rimbaud é, no mínimo, maravilhoso.

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